quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Por mim. Por Lúcia.


"Com seus olhos grandes de criança mimada, com sua sede de vida e seu medo da vida. Talvez um dia ela cresça."

Agora. Abri a página agora e me transformei em Lúcia. Essa Lúcia. Aquela Lúcia. Sou Lúcia de Tapajós.
Mas só agora, só nessas palavras ditas antes, nunca em corpo, menos em alma.

Entendam, Lúcia era grande, tinha culhões, brilhava, lutou, correu e morreu. Morreu não por ela, morreu por nós. Lúcia era real. Não sou Lúcia, sou as palavras que dizem de Lúcia. Não sou real.

Pureza de Lúcia.

Assim, hoje não escrevo por nada, hoje escrevo porque penso. Penso em mim, e sou Lúcia na frase dita. Meus olhos grandes de criança mimada. Meus olhos grandes e opacos, cansados, sem alma, de criança mimada e orgulhosa que engole, resmunga, chora, se debate e bate. Olhos grandes. Sou Lúcia na minha sede de vida. Vida que me joga pra cima, que me tenta, que trata de me convencer a ver, que me empurra pra frente e puxa pra trás. Que brinca, que leva, que volta, que mexe, remexe. Machuca. Dói e me faz querer doer. Gostar de doer. Sorrir após doer. Respirar a beleza de doer. Sou Lúcia no medo. Meu medo de mim. Meu medo de estar aqui. Meu medo de sumir daqui. Meu medo de não crescer...

Medo do medo. Medo de Lúcia.
Não cresço e, assim como Lúcia, talvez um dia cresça.

Aprendo, é fato, mas não cresço. Não digo por você, Joana, que me dá chacoalhões sem fim, afim de me acordar e ver o mundo que perco por fechar os olhos e não aproveitar toda a beleza que temos em volta. Afim de me acordar e ver a beleza que tenho dentro de mim. Não digo por mais um empurrão, não. Digo por mim. Digo porque percebo sim aonde erro. Percebo sim o que faço. Percebo sim quando afasto. Então, amanhã te peço, não tenha cuidado, me derrube, sem dó. Me tranquiliza saber que você estará aqui para me levantar, também.
Não digo pelos erros, não digo por vocês, não digo por Lena, nem por Tapajós. Não digo por nenhum dos diálogos e, menos ainda, digo por tantos labirintos e confusões que fizeram em meu ser quando vejo tantos dedos e tantos olhares, internos, externos, jogando e só jogando...
Hoje, e só hoje, digo por mim.
Digo que sou Lúcia assim por ser, por ter, por me ver. O espelho, que sou eu, grita o sim. As pernas, que são minhas, se mexem inquietas cada vez que leem a frase. O coração, que pulsa aqui, salta e sabe, é de Lúcia.

Sou palavras, Lúcia.

Pri Fierro.
(citação do livro 'Em câmera lenta' de Renato Tapajós)

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