terça-feira, 31 de julho de 2012

Eu sei que você sabe.

"...foi outro dia quando isso aconteceu, sei lá, não sei muito bem o que me deu, só sei que deu. Deu que eu fiquei toda empipocada, inquieta, com a respiração maluca ! Parecia que o peito ia se abrir ao meio, o coração saltar igual um sapo que foge das mãos da criança que maltrata. Foi estranho... caótico !! Achei que tava enlouquecendo, sério mesmo. Quis pular pela janela pra ver se rolava de voar... acredita ? Pois sim. Juro pra você, rolou até uma vontade de provar a morte, de constatar se essa coisa existe mesmo. Se Deus, céu, karma, purgatório, paraíso, inferno, vida após... se essas coisas existem de fato. Pensei em me jogar na frente do ônibus.. não, do carro.. okai, da moto. E então, cocei os pipocos que me empipocavam, passei as duas mãos no rosto com furor, quase arrancando minha pele. Cara, eu tava desesperada ! Respirei bem fundo, senti o estômago se contorcer todinho, virando intestino se dando nó. O coração pesado, o ar não saindo direito, uma dor, uma aflição, uma angústia e ... você não vai acreditar... minha cabeça gritou comigo mesma. Sério mesmo, gritou ! Com voz própria e tudo ! Gritou mandando eu ir embora dalí, andar, me movimentar, criar, correr, pular, viver. Disse: vive ! vive ! viva ! vive ! vive ! minha filha, viva ! viva !, toda se balançando, toda assanhada se mostrando pro mundo, me enforcando, me obrigando, me fazendo de refem de mim mesma. Sendo dominatrix em uma relação sado que eu nem gostaria de vivenciar .. mas acabo sedendo, sádica, você sabe. Sei lá, desde então a vontade de viver tomou conta de mim mais ainda. Lembra ? Já falei pra você essas coisas, você também é assim, você sabe do que eu tô falando. É uma vontade súbita, parece que vai comer a alma da gente... um movimento estranho, que estático se cansa e dá socos e mordidas nas entranhas, brigando, implorando pra se movimentar ! Pirralhinho mimado esse... sei lá, sabe ? Decidi, assim, depois disso, que tô indo embora.. tá sendo meio difícil, mas tô tentando deixar as coisas aos poucos, de maneira leve, sem me obrigar a esquecer só levando de uma maneira menos dolorida. Me convencendo de que vai ficar tudo bem e que viver, de fato, VIVER, sabe ? Não sobreviver, eu digo, VIVER DE FATO, é o caminho que vai me levar pra caminhos que eu desejo aqui, em segredo ...você sabe. Eu sei que você sabe..."

Pri Fierro

quinta-feira, 26 de julho de 2012

O fim do arrependimento

Uma noite dessas, em seus sonhos inacabados, uma voz salgada de lagrimas indagou-a de frente. Metendo cara, coragem, uteros e todo quanto tipo de entranhas pra fora, para que ela de fato pensasse ... Não. Para que ela de fato sentisse a resposta da pergunta que viria a seguir:

- Arrependimentos são validos ?

Encarou o proprio rosto no espelho fundo daquelas palavras, magoadas. Fechou os olhos e pensou no machucado ja conhecido, velho companheiro, que mais uma vez, por motivos repetidos, pulsava em seu corpo. Sentiu um vazio grande, um enorme buraco negro engolindo tudo que acreditava ser verdade. Um vazio maior, como se o que tapava ele um pouco tivesse ido embora, mesmo apos um aparente arrependimento.

Queria gritar e acordar, mas a voz salgada lhe prendia naquelas sensações que não lhe deixavam dormir.

Arrependida, calada, sem ação - mais outra vez - deitou nua no chão frio do sonho, sentiu a dor do corpo, a tristeza do peito e respirou o fim do que nunca havia começado.

Pri Fierro

sexta-feira, 13 de julho de 2012

Uma das perguntas que jamais serão feitas.

"Dos lugares que você já conheceu, qual você me levaria por vontade de me mostrar ?"

Pri Fierro

Diálogos inacabados

- Já houveram tantas revoluções, tantos gritos, passeatas, barulho .. nada deu certo ! Nenhum deu certo ! Por que isso, agora, que vocês fazem dariam ?! São só repetições ! Por que daria certo ?!
- Por que não poderia dar ?

Pri Fierro (não aceito um "não deu" como resposta)

quinta-feira, 12 de julho de 2012

Calor



Será que tem algum bilhetinho com calor e cheio de segredos para mim? Preciso sentir alguma coisa diferente.

Será que sempre baterá uma tristeza tão grande como essa, e que é vinda de um algum fracasso de nossos desejos?
Então pedimos em silêncio para ficarmos quietos. Xiuuu! E ao mesmo tempo escrevo uma carta pedindo ajuda em algum abraço quentinho para me confortar.

Thatiane.oc

terça-feira, 3 de julho de 2012

Tresler em adejo.

Parecia tudo de trás pra frente, voltando às raízes não firmadas, voando à pequenas distâncias repetidas sem uma direção, porém, com um objetivo.
Sempre o mesmo.
Sempre um.

Endoidecia, era só o que conseguia acreditar quando deitava a cabeça no travesseiro e se cobria, antes de deixar-se partir em sonhos caóticos e ternos, onde tudo via, tudo sentia, mas nada creia - treslia, se voltava ao avesso do avesso do avesso do avesso ... se perdia, e adejar não fazia com que a alma encontrasse o caminho de volta à casa.
Acordava de um pulo !
Suava com frio, caía .. abria mais os olhos diante do espelho sujo, olhava o corpo roliço, passava as mãos nos cabelos negros e respirava fundo, mandando embora toda a enganação mental, o adejo que lhe corrompia, a loucura de pensar que tudo estava caminhando de trás pra frente, que as raízes não firmes agora se firmariam aos poucos....

"Doidera. Pulsa, pulsa, pulsa. Vive, vive, vive. Doidera"

No fim, infelizmente, só sobrevivia.



Priscilla Fierro (aprendendo palavras novas e modificando textos antigos)



tresler: ler às avessas, perder o juízo, enlouquecer

adejo: ato de adejar. dar vôos curtos e repetidos sem direção certa