segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Próxima estação, Ana Rosa



Tanta gente que passa, se roça, se coça, se olha

- Qual seu nome ?
Não sei e nem vou saber.
Você, ao meu lado, sorri e dividimos um segundo de vida.
Um minuto
meia hora
Já todo mundo mudou !milhões de vidas no mesmo lugar
ao mesmo tempo
sem tempo
correndo.
Compartilhando vida,
lugar,
assento,
hora,
ar !
O seu ar que sai agora, na minha frente, é o meu ar de aqui, sentada:
- Ei, me desculpa ! pisei sem querer !
- A senhora quer se sentar ?
- Quer que segure pra você ?
- Com licença.
- Obrigada, meu anjo.
O seu ar que sai agora, na minha frente, é o meu ar de aqui,
inspirado e respirado no metrô de nossas vidas.

Pri Fierro (escrevendo no metrô, publicando em dois blogs)

foto tirada do flickr:  http://www.flickr.com/photos/gustavominas/ 

domingo, 6 de novembro de 2011

Diálogo de vizinhas

- Viu que filha de Fulana tentou suicídio ?
- Foi, não foi ?! Eu sempre disse que tinham que jogar fora aquele tanto de remédios da casa...
- Que desgracera !
- Sabe o motivo, não sabe ?!
- Fulana não pode nem pensar que todo mundo já tá sabendo...
- Nem a menina, que vergonha !
- Isso dá inferno !!!
- Pecado... judiação, tão nova ! Bonita ! Inteligente !
- Não aguenta marido mais não.
- E a outra nem pode chegar perto no hospital, o cara lá disse que ia acabar com ela..
- E isso nem é por amor à menina, cê sabe, não sabe ?!
- E homem lá gosta de ser chifrudo ?!??? Ainda mais...
- É por isso que eu vou sempre no mesmo pagode, não arrisco vê gente nova não..
- É por isso que eu nem saio !! Paixão é coisa perigosa.
- Mata a alma... e nessa situação !!
- E a menina fica aí andando, pra baixo e pra cima, tentando saber alguma coisa da coitada...
- E a coitada só chora trancada no quarto... Cicrana anda ajudando Fulana, me contou tudinho !
- Mas é, não é ? Judiação.. a menina chora dia e noite e o marido nem aí, sai pra beber ...
- E homem lá gosta de ser cornudo ?! E nessa situação !!
- Mas nem pra cuidar da menina ?
- Outro dia disse que ia abrir mão, gritou com Fulana até umas hora ! Falta de respeito, a menina acabou de tentar de se matar...
- E a outra... eu sei que não é bem visto, não.. mas que dá dó, dá ! Parece amar mesmo a coitadinha..
- Fulana quer morrer só de pensar que a filha quase se matou por outra mulher. Cicrana me disse tudo ! Disse que eu precisava só de ver, a mulher pálida sem comer..
- Parece luto.
- Era melhor ter morrido..
- Bate na madeira !
- O marido logo mata se elas não pararem com isso..
- A outra tá de dá dó... inchada, chora igual uma condenada no bar de Beltrano, e agora pior !
- É amor... não condeno, não. Não é que se diz que um não escolhe por quem se apaixona ?!
- É, bem que é...
- Dá dó..
- Judiação !

Pri Fierro

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Passarinho.

Asinhas batendo rapidamente, loucas por um impulso forte o suficiente para desandar a voar de uma vez.
Essa era a imagem que gravara com a camêra do celular, afim de vê-la e recordá-la sempre que alguma coisa parecia impedí-la de avoar. Era um pequeno passarinho, filhotinho, novinho. A mãe alí do lado mas ele fazia todo o duro trabalho de conseguir sua liberdade, o comecinho de uma vida própria fora do bico de sua mãe, da comida mastigada, das minhocas alheias.
Era um esforço magnífico ! Duro, difícil, perigoso, pois um bater de asas errado e ele se esburrachava no chão de uma só vez. Talvez não voltasse a voar nunca mais. Talvez conseguisse levantar. Talvez um gato o comeria, morto.
Mas ele tentava, alí, soltando algum que outro "piu" como que dizendo "vamos, vamos, vamos". Até que o ar pareceu concreto, e o céu era pequeno demais para o passarinho voador do momento !
Ela alí, gravando tudo e quando voou ela só pode dizer:
- Isso que quero ser quando crescer.