terça-feira, 25 de janeiro de 2011

A suposta continuação (...)


                                                      

Me enganei. Te enganei. Toda aquela alegria era como uma palavra estraçalhada e contorcida por toda a minha dor. Quando ela chegava ao topo, via que nada daquilo existira. Tudo ela inventou, e o que restou você jogou, e entregou para o vento. (A interrogação vai continuar sempre)
Gritei: - Felicidade. Paz. (Era tudo mentira, ela vinham como um eco, de fora paradentro)
Ela te enganou, e não se enganou (mentira, ela também se enganou). Apenas, teve que deixar de lado tudo o que você mais queria, mas, você não soube segurar, ao menos, não conseguiu sentir, pois, era invisível (lembrando: olhando de onde era visto). Você chegou a começar sentir, mas teve medo. (É como se olhar no espelho quando já se tem 1000 anos, e ver que nada de bom carregou).
Tudo o que você deu a ela, foi convertido em espaço entre cada gota de chuva não molhada, e muito menos sentida.
O G-R-I-T-O, persistiu !
(O pensamento de sentir e fugir ou de não sentir e não fugir, também persistiu!)
Cada palavra foi dita com esperança de sentir o que nunca se permitiu, e por agora, vê que nada do que quer vai ser encontrado se o seu mundo não girar conforme aquela música favorita cantarolada em sua mente. Sim, cantarolada. Buscou outras maneiras de sentir, mas essa está longe de tudo no momento.
Cada lágrima, se pôs como o desespero de querer sentir como se fosse alguém.
( E hoje ela sonhou que um anjo disse: - O que escreve é realmente o que sente? / Ela ficou em silêncio, e sentiu como um vazio dentro de tudo que criou.)
E agora ela começou a imaginar e buscar forças para transformar suas lágrimas em estrelas, e o tempo em espaço para construir o Castelo de Vidro. (cont.)

"A partir de hoje, só o que for muito, muito leve, bonito e fácil. A grande maioria desiste. Eu, só estou abrindo mão. Concordo contigo, também aconteceu comigo: o meu coração partiu. Para outro lugar." - Gabito Nunes

- thatiane.oc

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Sua jaqueta marrom



"Poderia, você, me explicar o que sinto ?! Te pergunto, por se acaso, você tem a resposta em algum bolso de sua jaqueta marrom. Sabe, desde quando te vi, pela primeira vez, sentado no banco do pátio central, fumando um cigarro e espantando os males com a fumaça, saindo de sua boca, soube que talvez você tivesse a resposta para isso que sinto. Não sei, acho que é alguma magia que vejo em sua jaqueta marrom. Meu pai tinha uma jaqueta marrom, dela saia todas as respostas para minhas tristezas. Cada choro era uma bala. Cada tombo, um chocolate. Cada bronca vinha, algum tempo depois, com presentinhos dessas máquinas, onde você enfia uma moeda e ganha uma bolinha pula-pula. É, tudo saia da tal jaqueta marrom. Acho que é isso que me faz pensar que aí, dentro desses bolsos, de onde você tira seus cigarros enquanto sorri amarelo para os que te rodeiam, existem os nomes e as razões para tudo o que eu sinto. Pode ser por isso que minha mãe se apaixonou por meu pai. Deve ter se apaixonado por sua jaqueta marrom mágica.
Bobagem, não acha ?! Ninguém pode ter respostas de sentimentos alheios. Menos ainda, tirá-las de uma jaqueta marrom. Bobagem. Eu sei, a vida é cheia delas.
Mas, ainda que pense ser bobagem, não consigo tirar meus olhos de sua jaqueta.
Coloco nela toda a esperança que tenho em, um dia, conseguir decifrar o que sou. Sabe, como a esfinge ?! Preciso ser meu Édipo, me decifrar antes de acabar me devorando por inteira. De alguma maneira, penso que você pode me ajudar. Você, e essa bendita jaqueta marrom.
Tenho essa estranha mania em depositar esperanças e pesos, sempre meus, nas outras pessoas. Acho que é uma maneira de não assumir minha loucura, minha doença, minha dor, pelo menos não sozinha. Tenho mania de exageros também. Acho que é culpa do meu pai, por sempre ter me dado um doce em troca de um choro. Penso que exagerando ganho alguma coisa, engano. Exagerando só ganho mais dor. Vê ?! Joguei a culpa em meu pai e exagerei, sem nenhum esforço. Acho que faço por não acreditar tanto em mim, por não ter uma jaqueta marrom. Quando choro, não me dou doces. Quando caio, não me presenteio chocolates. Quando brigo, não coloco moedas em maquinas e não há mais bolinhas pula-pula.
É, não tenho jaqueta marrom.
Eu sei, não acho que todas as soluções do mundo estão dentro de bolsos, e sei que crescer, mudar, aprender, viver, não se faz assim, metendo a mão dentro de um bolso e tirando todas as respostas para nossas ansiedades de dentro dele ! Posso parecer, mas não sou mais a menina tonta que acreditava que as felicidades eram brotinhos, que saiam dos bolsos da jaqueta mágica de papai, toda vez que a tristeza batia em minha portinha. Sei também que, para ser meu Édipo, não necessito de você e nem de sua jaqueta. Ainda que me pareça uma ajuda tremenda, o olhar do outro, às vezes, nos ajuda na charada com mais facilidade, não acha ?!
Não é eu me encontrar em você, mas você me ajudar a eu me encontrar em mim.
Talvez, seja isso que necessite. Eu, logo eu, que nunca me vi auto-suficiente em nada, mas que sempre me escondi de jaquetas marrons.
Sabe, penso aqui, comigo mesma. Porque não tentar enfiar as mãos em seus bolsos e ver o que pode sair daí ?! Talvez, nada saia. Talvez, eu me estrapole toda por mexer em sua jaqueta marrom. Talvez, me perca mais do que já estou. Talvez. Mas, a vida já é tão cheia de 'talvez', e eu tenho tanto medo do que possa ser, que agora não me importo em arriscar um 'e se'.
Pelo menos, não com você."



Nota de mim mesma: (nada apaixonada, nada inspirada, muito menos de olho em nada. pelo contrário, bastante egoísta. aprendam, nem todos os textos são experiências pessoais.)
Pri Fierro

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Preto no branco.


Subiu no último andar daquele edifício histórico e famoso da cidade de São Paulo. Tudo era muito pequeno, se sentiu enorme. Olhou cada formiga lá em baixo, andando por todos os lados, apressadas e livres em seus passos. Passos que eram presos por destinos, por lugares aonde ir, direções, mas livres de pisar aonde quisessem pisar. Abandonadas de pai e mãe, formigas órfãs, vazias, tristes. Formigas que andavam no preto, no branco, na linha, no buraco que derrubava uma ou outra, que fazia tropicar. Tropicadas violentas, que deixavam cicatrizes imensas, em joelhos já bastante violentados pelo peso das folhas carregadas pelas filhas de ninguém.
Se sentiu enorme !
Olhou todas, uma por uma, desde lá de cima do céu, do edifício mais alto daquela cidade maravilhosa, poluída, cheia, imensa, grandiosa, linda ! A tal selva de pedras, cimento, concreto, pó e lágrimas. Amava aquela sujeira toda.
Riu uma gargalhada feroz, riu das formigas. Hoje, ali, era imensa !
Queria explorar todos os cantos que eram escondidos de sua visão. Cada buraco, cada enredo, cada cheiro e gosto daquele lugar, daquelas formigas, daqueles órfãos que faziam parte de toda sua vida sem que ela conhecesse metade da metade. Queria lamber cada rosto, sentir cada suor, ouvir cada suspiro, engolir cada voz, curar cada ferida de cada joelho sangrento.
Afinal, era enorme.
Ali, no alto do edifício, era enorme !

O sol, no fim da cidade, se despediu quando o relógio mostrou às 19:00 e pouquinho da noite. Sentou com as pernas penduradas para fora do edifício, sentiu o ventinho no tornozelo, sentiu as lágrimas nas bochechas pintadas. Chorou.
Deixava de ser enorme, descia pela escadaria, voltava a ser formiga, não provaria, só caminharia.
Presa por destino algum, destino não escolhido, destino obrigado.
Liberdade de preto no branco.

Formiguinha órfã, chorona, não se lambuzou de sabores, dores e nem cores.
O enorme ainda era pequeno demais para aquela formiga.

Pri Fierro