terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Preto no branco.


Subiu no último andar daquele edifício histórico e famoso da cidade de São Paulo. Tudo era muito pequeno, se sentiu enorme. Olhou cada formiga lá em baixo, andando por todos os lados, apressadas e livres em seus passos. Passos que eram presos por destinos, por lugares aonde ir, direções, mas livres de pisar aonde quisessem pisar. Abandonadas de pai e mãe, formigas órfãs, vazias, tristes. Formigas que andavam no preto, no branco, na linha, no buraco que derrubava uma ou outra, que fazia tropicar. Tropicadas violentas, que deixavam cicatrizes imensas, em joelhos já bastante violentados pelo peso das folhas carregadas pelas filhas de ninguém.
Se sentiu enorme !
Olhou todas, uma por uma, desde lá de cima do céu, do edifício mais alto daquela cidade maravilhosa, poluída, cheia, imensa, grandiosa, linda ! A tal selva de pedras, cimento, concreto, pó e lágrimas. Amava aquela sujeira toda.
Riu uma gargalhada feroz, riu das formigas. Hoje, ali, era imensa !
Queria explorar todos os cantos que eram escondidos de sua visão. Cada buraco, cada enredo, cada cheiro e gosto daquele lugar, daquelas formigas, daqueles órfãos que faziam parte de toda sua vida sem que ela conhecesse metade da metade. Queria lamber cada rosto, sentir cada suor, ouvir cada suspiro, engolir cada voz, curar cada ferida de cada joelho sangrento.
Afinal, era enorme.
Ali, no alto do edifício, era enorme !

O sol, no fim da cidade, se despediu quando o relógio mostrou às 19:00 e pouquinho da noite. Sentou com as pernas penduradas para fora do edifício, sentiu o ventinho no tornozelo, sentiu as lágrimas nas bochechas pintadas. Chorou.
Deixava de ser enorme, descia pela escadaria, voltava a ser formiga, não provaria, só caminharia.
Presa por destino algum, destino não escolhido, destino obrigado.
Liberdade de preto no branco.

Formiguinha órfã, chorona, não se lambuzou de sabores, dores e nem cores.
O enorme ainda era pequeno demais para aquela formiga.

Pri Fierro

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