quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Sua jaqueta marrom



"Poderia, você, me explicar o que sinto ?! Te pergunto, por se acaso, você tem a resposta em algum bolso de sua jaqueta marrom. Sabe, desde quando te vi, pela primeira vez, sentado no banco do pátio central, fumando um cigarro e espantando os males com a fumaça, saindo de sua boca, soube que talvez você tivesse a resposta para isso que sinto. Não sei, acho que é alguma magia que vejo em sua jaqueta marrom. Meu pai tinha uma jaqueta marrom, dela saia todas as respostas para minhas tristezas. Cada choro era uma bala. Cada tombo, um chocolate. Cada bronca vinha, algum tempo depois, com presentinhos dessas máquinas, onde você enfia uma moeda e ganha uma bolinha pula-pula. É, tudo saia da tal jaqueta marrom. Acho que é isso que me faz pensar que aí, dentro desses bolsos, de onde você tira seus cigarros enquanto sorri amarelo para os que te rodeiam, existem os nomes e as razões para tudo o que eu sinto. Pode ser por isso que minha mãe se apaixonou por meu pai. Deve ter se apaixonado por sua jaqueta marrom mágica.
Bobagem, não acha ?! Ninguém pode ter respostas de sentimentos alheios. Menos ainda, tirá-las de uma jaqueta marrom. Bobagem. Eu sei, a vida é cheia delas.
Mas, ainda que pense ser bobagem, não consigo tirar meus olhos de sua jaqueta.
Coloco nela toda a esperança que tenho em, um dia, conseguir decifrar o que sou. Sabe, como a esfinge ?! Preciso ser meu Édipo, me decifrar antes de acabar me devorando por inteira. De alguma maneira, penso que você pode me ajudar. Você, e essa bendita jaqueta marrom.
Tenho essa estranha mania em depositar esperanças e pesos, sempre meus, nas outras pessoas. Acho que é uma maneira de não assumir minha loucura, minha doença, minha dor, pelo menos não sozinha. Tenho mania de exageros também. Acho que é culpa do meu pai, por sempre ter me dado um doce em troca de um choro. Penso que exagerando ganho alguma coisa, engano. Exagerando só ganho mais dor. Vê ?! Joguei a culpa em meu pai e exagerei, sem nenhum esforço. Acho que faço por não acreditar tanto em mim, por não ter uma jaqueta marrom. Quando choro, não me dou doces. Quando caio, não me presenteio chocolates. Quando brigo, não coloco moedas em maquinas e não há mais bolinhas pula-pula.
É, não tenho jaqueta marrom.
Eu sei, não acho que todas as soluções do mundo estão dentro de bolsos, e sei que crescer, mudar, aprender, viver, não se faz assim, metendo a mão dentro de um bolso e tirando todas as respostas para nossas ansiedades de dentro dele ! Posso parecer, mas não sou mais a menina tonta que acreditava que as felicidades eram brotinhos, que saiam dos bolsos da jaqueta mágica de papai, toda vez que a tristeza batia em minha portinha. Sei também que, para ser meu Édipo, não necessito de você e nem de sua jaqueta. Ainda que me pareça uma ajuda tremenda, o olhar do outro, às vezes, nos ajuda na charada com mais facilidade, não acha ?!
Não é eu me encontrar em você, mas você me ajudar a eu me encontrar em mim.
Talvez, seja isso que necessite. Eu, logo eu, que nunca me vi auto-suficiente em nada, mas que sempre me escondi de jaquetas marrons.
Sabe, penso aqui, comigo mesma. Porque não tentar enfiar as mãos em seus bolsos e ver o que pode sair daí ?! Talvez, nada saia. Talvez, eu me estrapole toda por mexer em sua jaqueta marrom. Talvez, me perca mais do que já estou. Talvez. Mas, a vida já é tão cheia de 'talvez', e eu tenho tanto medo do que possa ser, que agora não me importo em arriscar um 'e se'.
Pelo menos, não com você."



Nota de mim mesma: (nada apaixonada, nada inspirada, muito menos de olho em nada. pelo contrário, bastante egoísta. aprendam, nem todos os textos são experiências pessoais.)
Pri Fierro

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