segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Calor insuportável.



Retirou o pote do congelador, a massa tricolor era dura como pedra, mas via-se na dureza do sorvete a vontade de ser provado, desgutado, amolecido. Ela sentou, com pote, colher, pegador e caneca em frente, esperando, pacientemente, que a massa cedesse deixando com que fosse possível comê-la e sentir o amarguinho do morango, o único da baunilha, o doce do chocolate.
Sentada, esperou a massa amolecer.
Ainda que o calor fosse grande, demorava. Mas ela não tinha pressa, esperava. Esperava sentada, olhando e observando, sentindo como, aos poucos, aquela massa ia mudando do congelado para o meio termo, como a cor deixava de ser tão pálida e como o aroma já era possível de ser sentido, bastava com que ela aproximasse o nariz.
Cutucou o sorvete com o pegador, seguia durinho, mas mais molinho. Começou a pegá-lo como possível, sujando dedos e mãos com a borda do pote, já metade comido. Não limpou, lambeu as mãos com gosto, fazendo as tais papilas gustativas dançarem de alegria doce e fria. Fria, a massa cedia mas seguia fria, gelada. Era um passo, um passo para o derreter completo e ela sabia, o calor se tornava insuportável para aquele sorvete. Para qualquer sorvete, na verdade. Mas não via problemas, às vezes deixava com que a massa derretesse por completa, por simples gosto de tomá-la assim, a colheradas. Logo, quando percebia que o gosto já não era tão bom quando derretido, o metia de novo no congelador para que voltasse a endurecer. Sua função, derreter e escorrer e poder endurecer logo depois. Sua outra função, fazer dançar as vontades, mas saber superar o fim das mesmas.

Fechou o pote, agarrou a caneca, se lambuzou. Sentiu.
O sorvete derretia, ainda gelado, o calor insuportável. Mas o sorvete derretia... no compasso de um tum tum, tum tum, tum tum...

Pri Fierro (se inspirando em histórias alheias)

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