sexta-feira, 15 de julho de 2011

Dizia...



Desde muito pequena queria salvar o mundo. A obcessão começou quando viu seu vizinho, alguns anos mais velho, salvar um gatinho perdido na rua. Dizia 'obcessão' por planejar, desde então, esse tipo de coisa em sua cabeça, a cada passo que se atrevia a dar na terra. Parecia capaz de fazê-lo, afinal, desejava com uma euforia no peito que ninguém poderia imaginar, dessas de fazer sambar os pulmões e torcer o estômago em mil borboletas brancas. O mesmo sentia quando via o vizinho, ex salvador de gatinhos. Foi seu primeiro amor. Dizia que era seu 'amor' por entender muito pouco sobre o assunto. Assim, desde que descobriu que o amava, sonhava em salvar o mundo com seu vizinho mais velho. Mas a menina cansou daquela coisa toda de coração e, logo que cresceu, quis salvar o mundo sozinha. Sozinha porque se via capaz de salvar mais mundos que aquele seu vizinho, que a fizera chorar. Dizia 'sozinha' por achar que só assim conseguiria ir e vir, sem ninguém levar.

Desde muito pequena cometia enganos com ela mesma.

Crescendo, viu que nada salvara. O vizinho havia feito a vida, e ela ? só a havia seguido. Não salvou gatinhos nem nada do tipo, mas seguia a enganar-se com ela mesma, sozinha. Queria sozinha, de fato, mas o fato de não conseguir ir sem vir ou, ir sem levar, atrapalhava todos os seus benditos planos ! Tudo parecia muito confuso nessa história de crescer e salvar ao mesmo tempo. Sem falar na parte de 'amar', que parecia não ter nenhum tipo de lógica no planeta. Um dia o vizinho virou um amigo, e um amigo virou um conhecido, e o conhecido virou ninguém. Foi quando ela se perdeu no amor e não soube mais o que queria ser: salvadora ou amante. Não soube, queria poder agarrar gatinhos perdidos e levar vizinhos sem que nada disso tivesse algum dano. Mas aquilo de enganar-se com si propria seguia de uma maneira que, com gatinho ou sem vizinho, dizia uma coisa e logo fazia outra.

Dizia 'fazer' mas nunca fazia.

Acabou que não soube pra onde andar. Tentou aqui, tentou ali, desejou acolá, mas nada de salvar, nada de gatinhos, nada de vizinhos, nada de deixar de se enganar. Nada ! Resolveu, então, abrir mão da obcessão, que passou a ser um desejo, e esquecer o vizinho, que viu que nunca chegou a amar, para, enfim, poder correr o céu que parecia lhe esperar cheia de gente que não sabia voar.

O problema ?! Ela não tinha idéia de como bater as asas.
Foi então que caiu... e ninguém veio levantar...

Pri Fierro (dos textos antigos feitos novos)

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