terça-feira, 1 de maio de 2012

E a vida acontece.

As coisas faziam mais sentido quando degustadas com um pouco de álcool. Era o que sempre pensava quando, só, se sentava no bar em frente ao seu apartamento pacato, naquela metrópole agitada que controlava os batimentos de seu coração.
A rejeição, amarga e grossa, como um líquido viscoso e nojento, descia por sua garganta com a ajuda da cachaça barata, seguida de um copo de cerveja que acalmava a ardência antes provocada. Não entendia porque a cabeça fazia aquela pressão, enquanto o coração dormia tranquilo e os pulmões respiravam perfeitamente bem, ainda que jogados de lado, como dois trapinhos velhos que já não servem pra mais nada que limpar chãos.
Rejeição inventada, martelava a cabeça dura que insistia em repetir pra ela mesma que nada de errado havia feito: razão, confusão, queria mesmo acreditar naquilo tudo, mas não entendia aonde errava naquela história de carinhos .. afinal, dessa vez eram mesmo apenas carinhos. Não havia sentimentos profundos envolvidos, apenas carinhos, carinhos de carências da vida onde, ás vezes, é bom compartir sem ter que se entregar até os ovários.
O ser humano sempre complicando mais do que deveria. E isso valia para ela, apenas ela e seu segundo copo de cana, que dividia aquela noite fria, aquele bar, aquela mesa e aquela cadeira de madeira tão antiga. O coração não tava partido, mas a rejeição mexia com coisas bem mais profundas e desonhecidas para ela, tão segura de si aos que olhavam ! Tão conhecedora daquela sua alma peregrina, que vagava assombrando lares e pessoas.
Mil histórias acabava inventando, acreditando, tragando, se perguntando como o interesse pelos seres humanos pra ela não acabavam com um piscar de olhos !
Mas não chorava, não ia chorar a morte de um defunto que ainda vivia dentro dela. Nem choro, nem vela, nem fita amarela.
Desce mais uma que a vida é uma festa.

Pri Fierro

Um comentário:

  1. "Não havia sentimentos profundos envolvidos, apenas carinhos, carinhos de carências da vida onde, ás vezes, é bom compartir sem ter que se entregar até os ovários."

    te sinto inteira...

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