segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Entre as bitucas de cigarro

O cinzeiro cheio de bitucas, a janela escancarada e o vento frio invadindo o apartamento vazio.
Só um corpo habitava ali.
Um corpo, mil confusões, milhares de impulsos, inconstância de alma que nunca se viu.
O peito apertava, a respiração não sabia por onde respirar, não sabia por que respirar, e ela se mantinha em pé com mais um cigarro em mãos - tragando a fumaça como se as coisas pudessem se arrumar assim.
A vida parecia de ponta cabeça, não terminava nada.
Não começava nada.
As coisas começavam a dar certo pra logo darem mais errado ainda e, como se fosse justo com ela, se arrebentarem em chateação, encheção, birrinhas que: "Acredite, já não tenho paciência pr'essas coisas".
Dialogava sozinha no quarto lotado de almas, todas expostas em suas paredes.
Se perdia em falas vazias e sem sentido.
Já não sabia aonde ia, da onde vinha, pra que iria.
Se perdia e logo fugia.
Fugindo, desaparecia de si e podia respirar um ar que não lhe perseguia todos os dias, que não era aquele mesmo de sempre. Buscava outros ares. Ares que inflamassem seus pulmões e a fariam viva, atenta, curiosa por um novo cheiro, uma nova cor, por mil sabores.
Sabores ansiosos por sua língua - sua língua e a de mais ninguém.
Fugir, quem disse que podia ?
Exalava o cheiro da liberdade - flutuava em desejos e vontades.
Alguém lhe agarrava os pés, chão.
Uma bituca voava
Mesmo cigarro, mesma fumaça.

Priscilla Fierro (lamentando pelos que são liberdade e há quem lhes traga pro chão)

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