terça-feira, 30 de novembro de 2010

Cárcer de si mesma.



- E quem precisa se deixar, no final das contas ?

Ela questionava o mundo ante a janela, as grades, o sol quadrado. Aquele ar fresco da chuva recente, aqueles raios quentes do rei maestro, tudo aquilo tocava a pele branca pela janela mas nada, nada, chegava ao ponto de seu peito dolorido. Quem precisava ser deixado, no final das contas ? Gritava uma fúria de si mesma, por ser assim, por doer os outros, dos outros, nos outros. Não merecia o mundo que criava, as pessoas com quem andava, as mãos que lhe afagavam. Tinha que estar só, permanecer só, viver só, morrer só. Tinha tanto medo da solidão que, no final, via que era só que deveria estar.

- Por isso te temo.

Não eram uns ou outros, não era qualquer um, era um e outro, eram todos que explodiam seu coração mole e sangrento. Tinham nome, rosto, cheiro, voz e sentimento, e lhe causavam um bem que ela mesma transformava em mal. Tinha que se afastar e não por ela, nunca por ela, por eles. Cansada de fazer mal aos outros, era ruim, fazia mal e estava cansada de fazer mal a quem amava.

- Me convença que não, por favor ! POR FAVOR !

Gritou, uivou, nua diante da janela quadrada, do sol interrogante, do vento traidor. Traidor por levar sua voz ao mundo, por delatar suas dores, por mostrar sua fragilidade quando queria se fantasiar de coragem. Não queria nada de ninguém, não queria que ninguém lhe desse nada. Nem mãe, nem irmã, nem pai, nem amiga, nem tia, nem sobrinha, nem vó, nem ele, nem eles, nem ninguém. Menos ainda alguém. Só queria dar, ainda que desse, só queria dar e dar e fazer bem aos que lhe faziam bem. Não queria mais causar dor a ninguém. Chorou, desejava mesmo ser boa.

Talvez, no final, queria só algo dela, algo que não tinha. Certeza. Sozinha, sentou e comeu de seu corpo cru, alimentou-se de cada sentimento. É, a amiga tem razão quando diz que é de dor que nos alimentamos...

Pri Fierro.

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