domingo, 3 de abril de 2011

Caixa Postal.



"Oi (pausa) oi (suspiro) não sei o porque disso, pra te ser muito sincera (pausa seguida de outro suspiro curto e seco) simplesmente, quando vi, já tinha posto para marcar o seu número e (pensando) sabe, eu esperava ouvir o seu alô do outro lado, mas acho que você está dormindo (pausa) é (silêncio) prefiro pensar que você está dormindo (pausa para, finalmente, começar a falar) eu queria conversar e pensei em você, quase que automaticamente, como se não existisse mais ninguém no meu mundo (pausa) louco, né ?! (silêncio que espera a resposta não recebida) quase cômico, na verdade (risada seca e irônica, curta) existem tantas pessoas na minha vida com quem eu poderia conversar e eu penso justo em você (silêncio de dor) tenho pensado muito em você (suspiro profundo) você sabe que tenho pensado muito em você (silêncio profundo) tem acontecido coisas bastante estranhas que, quase que de proposito, não me deixam parar de pensar em você (indignação) isso me deixa puta, pra te ser bem sincera (pausa para calma) puta pela dor que sinto por pensar em você e sentir a falta que o pensar me traz (pausa) outro dia vi um menino que tinha seus cabelos na Augusta, lembrei das cervejas daqueles dias que poderiam ter sido vazios, se a sua presença não enchesse qualquer espacinho de vida no mundo (risada curta, seca, de saudade doída) parece que metade do mundo resolveu chamar como você, pessoas que tem o seu nome, que nunca falaram comigo, resolveram se tornarem meus melhores amigos (irritação) agora todo mundo gosta das músicas que você gosta, fala do que nós falavamos, conhecem quem você conhece, frequentam os mesmos lugares que frequentávamos (pausa para engolir o choro) tenho sentido absurdamente a sua falta (silêncio) não sei porque te liguei, não devia ter ligado, mas quando bebemos fazemos idiotices mesmo, não é ?! (silêncio da resposta que não veio) é (pensando) você é um exemplo de idiotices alcoolicas (risada baixa e saudosa) não por nós, mas pelas coisas que já fizemos (pausa para lembranças) como quando você me pegou nos braços e girou, quase me derrubando, claro, em plena Liberdade, depois daquele karaokê que você cantou com o cover do Roberto Carlos (um sorriso do outro lado) tão bobo (mais lembranças) também quando você me mandava mil mensagens, quando estavamos em lugares difrentes (pausa) é (suspiro curto) os mais bêbados do mundo (sussurro) bêbados de vontades mútuas (suspiro) sinto falta dessas mensagens também, sabe ?! nunca fingi (pausa) sempre gostei quando meu celular vibrava e eu via que era você (tempo) você sabe que eu sempre gostei (pensando, pausa, para não seguir mais) sei lá, estou escondida no banheiro, as meninas me matariam se soubessem que estou te ligando (pensando alto) elas me proibiram (barulho de reclamação) elas dizem que tenho que deixar de ser trouxa, que você me tem aí, em sua estante e me tira e usa quando quer (abaixando o tom de voz) elas não percebem que só o faz porque eu gosto e deixo que o faça (pausa longa) é, deixo (som do engolir seco das palavras) que merda, você sabe, eu queria poder ir aí te ver, como antes (pausa) queria entender como tudo acabou da última vez, não lembro mais (respiração) tudo tem sido tão difícil sem você para dividir as coisas comigo (soluço) antes, era tão bom saber que eu chegaria e nós conversariamos e o mundo pareceria outra coisa (soluço) antes, quando parecia que você gostava de me ter por perto, quando parecia que você me queria alí, com você, e a vontade de me beijar aonde fosse transparecia em seus olhos (indgnação) você queria falar comigo, rir comigo, porra, você me queria também (mais indignação seguida de soluços) por que você me tirou da sua estante ? (silêncio) por que ? (fim da mensagem)"

...a mensagem nunca chegara a ser escutada. A secretária eletrônica havia quebrado. Ele, naquela manhã chuvosa de domingo, fez tudo como de costume, sem ter idéia da dimensão de sentimentos que despertara naquela pessoa que vivia logo alí, do outro lado da rua.
Naquele dia, ela fumou um maço de cigarro e tomou muitas xícaras de café, pela ressaca do dia seguinte, tudo na mesinha antiga em seu pequeno apartamente, esperarando algum tipo de reação ou resposta da, dita, besteira alcoolica do dia anterior.. quando a noite chegou, sem nenhum tipo de comentário ou ação, jurou nunca mais falar, lembrar ou tocar em seu nome.
Por fim, havia superado.
Ele não deixara de pensar nela por todo o dia, e ligou, naquela mesma noite, com o fim de convidá-la para sair... 'quando se supera, se tem';
Ela nunca ficou sabendo das intenções, destruiu o celular antes mesmo de pensar em antender.

Um mês, um dia, um minuto: uma suposta história.

Pri Fierro (ainda dialogando com textos perdidos, modificando muito, pegando mil pedaços saudosos; sendo má, e editando quinhentas vezes)

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