sexta-feira, 8 de abril de 2011

O rei da noite.



"Um bêbado agora me acordou. Ele cantava qualquer melodia incompreensível enquanto eu, viajando no mundo dos sonhos, ia de mãos dadas com você. De mãos dadas até que o bêbado na rua me acordou. O fitei por alguns minutos, cambaleando feliz, no meio da rua sem carros e pessoas. Livre, talvez, de tudo e todos que poderiam vir a incomodá-lo caso a hora fosse outra ou a rua fosse outra. Não havia com o que se preocupar, apenas eu era espectadora do tal bêbado e sua garrafa cantante. Melodia inexplicavelmente feliz. Você admiraria a cena, tenho certeza. Riria comigo mas não por sacanagem, não, por pureza, pela situação. Pela beleza da liberdade que um bêbado, em plena madrugada, trouxe ao mundo dos acordados. Ou dos que dormiam e acordaram, como no meu caso. O fato é que comecei a vagar pelo universo, com um sorriso tolo para o teto, perguntando o que pensaria aquele bêbado. Se ele pensaria na mesma coisa que eu. Lógico que seria quase impossível pensarmos na mesma pessoa. Ora, veja bem, eu disse QUASE impossível ! Bastante improvável, talvez. Demais de coicidência, com certeza. Mas sobre a mesma coisa, por que não ?! talvez explicasse o porque da embriagues e da felicidade de estar embriagado, essa coisa de esquecer que a reliadade existe e o que pensamos viver alí, naquele momento, é o tal real. O bêbado era o rei mundo ! E eu uma mera súdita que olhava tudo desde a sacada do meu cortiço. Você adoraria a cena, eu tenho certeza. Mas, vamos supor o óbvio, que ele pensasse no assunto que eu pensava ao ser desperta por sua cantoria. Estaria ele tão em dívida como eu ?! Sabe, deixei de te perguntar tantas coisas, achando que amanhã sempre viria. Deixei de te dizer tantas outras, achando que outra hora estaria melhor. Se pensar bem, não fiz muitas coisas que hoje vejo que você adoraria. Será que o rei da noite, aquele que voltava do banquete real, com a pança cheia da bebida dos deuses e espalhando música pela madrugada, deixou de fazer, perguntar, dizer tantas coisas como eu ? Isso é algo que, como súdita marginalizada que sou, nunca irei saber. Mas por sua liberdade ao caminhar, talvez, ele tenha feito tudo o contrário..

Posso até jurar que o rei, essa noite, se declarou a sua rainha...

O que tiro de tudo isso ?! Fácil. Meu rei noturno me ensinou que nunca é tarde demais para cantar."

Pri Fierro (realmente acordada por um rei madrugadeiro, da série de bilhetes perdidos por aqui)

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