segunda-feira, 4 de abril de 2011

Tolos Peixes I



... via todos como peixinhos dourados, tontos, que nadam em mil direções e nadam sem esperar um fim, nadam por não ter fim e nadam sem pansar no porque que nadam.
Sentada nas escadas do banco, ao lado da estação de metrô Consolação, na avenida extremamente movimentada da cidade cinzenta que amava, como tudo que a esmagava, observava indas e vindas de completos peixes estranhos e alaranjados, bobos, que pareciam nadar para algum lugar mas, na realidade, não nadavam a lugar nenhum. O segredo ?! Só ela sabia que não havia um fim para aqueles peixes, pois eles juravam que chegariam e alcançariam as metas mais monstruosas que as cabeças, de olhos esbugalhados e escamas cintilantes, maquinavam e planejavam sem que os outros soubessem bem o que; só ela. Tal segredo provinha de seu dom de ler mentes e ver futuros, sentada observando, anotava tudo em seu caderno de capa florida, onde traçava a vida de tais paixinhos nadadores e, logo, onde eles iriam acabar boiando, em um final nada fantástico. Nem todos iam privada abaixo, alguns tinham enterros dignos, dentro de caixas de sapatos e prantos de menininhas que os amavam descontroladamente, ainda que fossem meros peixes.
O que lhe intrigava, de certo, era a força nas barbatanas trazeiras, com a qual se empurravam adiante os pequenos corpinhos aquáticos; crentes, de uma forma cômica, que o caminho das ruas da cidade esfumacenta e linda os levariam para alguma parte desejada (ou imposta) com apenas esse esforço físico, já que, por seu dom, ela sabia que o mental vagava, como os olhinhos negros, e divagava sem um rumo certo; certos eram os olhos, erradas barbatanas confiantes de si.
Tolos peixes não sabiam que, ainda chegassem, desejariam ir mais; mais além do aquário transparente que, ilusionando-os, parecia existir a possibilidade do mais. Ela sabia, peixes tontos nadam pensando ter um lugar mas não chegam a lugar nenhum; batem a cabeça no vidro e voltam, como io-iôs, diretamente para a diração contrária, esperando outra possibilidade e, logo, se estripando contra o vidro do outro lado do aquário.

Ainda que os peixes nadassem rápido, por todos os lados, e se esbarracem, como se só existissem eles naquele aquário fantástico, ela (dona de segredos próprios e universais) seguia observando e rindo dos tolos, ali, da escada, anotando tudo o que via; certa de que queria nadar, mas não nadaria; já queria mais do que podia...

Pri Fierro (parte um de algo inacabado)

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