domingo, 10 de abril de 2011

Hoje acordei só pra te agradar.



Em cada parede da cidade havia uma nova frase. Uma nova frase que mexia com o seu corpo e o seu coração por ser tão verdadeira, tão atual, tão esperada que parecia ter sido escrita por ela mesma. Quem sabe, nas noites de insônia quando se parecia muito a um zumbi, caminhando pela casa, tomando qualquer coisa que encontrasse pela frente para dormir, assistindo qualquer porcaria na televisão para pegar no sono, fumando os cigarros que haviam esquecido em sua bolsa, olhando pela janela e pensando longe, lá longe, naquele longe exato de minutos contados, quem sabe nessas noites ela, sem saber, não havia saído pela cidade escrevendo nos tais muros pintados, de um dia para outro, palavras do mais profundo de seu ser. Citando e recitando, cantando algo que amarrava seu estômago e não se desprendia mais de si como um sapo amarrado com um cadarço roxo, por pura molecagem. Poderia ter sido ela, sim. Poderia ter escrito tudo aquilo em apenas uma noite ! Mas algo na letra, algo naquelas letras, diziam que não havia sido ela.. por mais que falassem por ela, com ela e talvez para ela, não havia sido ela. O feito não havia importado tanto, caminhou toda a cidade em menos de 24 horas lendo e se deleitando pelo diálogo misterioso entre seus sentimentos e os muros, as cores e as palavras quentes, lembrando-a que havia alguém naquele mundo que andava sentindo sua falta, que andava querendo-a por perto, que andava e só andava esperando encontrá-la em algum lugar, em qualquer lugar, só pra olhar de novo o sorriso que ela não percebia o quanto encantava. Ela não sabia aquilo, mas sentia aquilo por aquela outra pessoa, aquelas outras pessoas, todas as que haviam escrito nas paredes de toda a cidade versos conhecidos e desconhecidos pelo mundo.
E foi então que, quase chegando na fronteira que começava uma cidade vazia, sem muros pintados, enxergou de longe uma brancura com letras alaranjadas grandes, negritas, garrafais, gritando por sua atenção. O muro, que quase saltitava para chamá-la, dizia algo assim:

"Se você vai ficar nos meus sonhos, não quero acordar, nunca mais.
Mas se for de verdade me acorde só pra me agradar."


Foi aí que ela soube tudo; e o mistério de quem cantava para ela por meio dos muros da cidade foi desvendado logo quando acordou, só para agradá-la.

Pri Fierro (citação da escritora: Alice Ruiz)

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