quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Coração rosa choque



Não entendia a tremenda dor de cabeça que herdara da mãe. Como se tudo fosse desabar, o corpo latejava e as pernas tremiam em um compasso de dor interna que ela, na época de descobrimento de seus sentimentos humanos, parecia não entender de onde vinham. Começavam nos dedos das mãos, passeavam pelas costas, subiam pelas coxas e explodiam na cabeça de fios negros, desesperados por um carinho de aconchego que perdera por motivos próprios. Pior ainda era guardar tudo para si, não sabia verbalizar a dor, se dirigia ao hospital mais próximo e quando o médico lhe perguntava o que sentia não sabia o que dizer. Apontava para a cabeça e fazia uma careta de dor absurda que o doutor, em toda a sua razão médica, não entendia e perguntava, insistente, obrigando alguma palavra. Depois de algumas tentativas desistiu, e resolveu usar a cama como refugiu, tentando se afastar de luzes, tv's, computadores ou qualquer coisa que forçava seus olhos trabalharem.

Passou a passar os dias olhando para o teto. Branco teto de dia, preto teto de noite. Não deviava o olhar nem por um segundo, como em uma hipnoze olhou para o teto por tanto tempo e por tantos meses que viu alí, em um reflexo alucinante, todas as suas descobertas sentimentais. Foi então que saiu da cama por um segundo, flutuando até encostar nesses sentimentos, e sentiu como todo o corpo se molhava em um líquido salgado e fino, tranparente como a água, escorrendo por todas as dores de seu corpo. Sentiu que tudo sumia e junto se foram as dores, a cabeça, as coxas, as costas e os braços. Sobrou nada mais que tronco.

Quando encontraram seus restos, decidiram retirar o coração para que fosse estudado meticulosamente. Porém, ao abrirem a cavidade peitoralm um chafariz azul turquesa jorrou pelo quarto, pintando todos os espaços e todos os estudiosos que alí estavam presentes. Como um pássaro, um coração rosa choque voou pela janela rapidamente, fugindo de qualquer tipo de busca de entendimento humano - ou médico, se protegendo da humanidade, e de qualquer sentimento mais.

Pri Fierro (pra variar, baseando-se na vida das amigas)

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